MULHERES ACUSAM POLICIAL CIVIL DE COMETER ABUSO SEXUAL DENTRO DE DELEGACIA

Mulheres de Franca (SP) registraram boletins de ocorrência contra um escrivão da Polícia Civil relatando que sofreram abuso sexual cometido por ele dentro de delegacias da cidade.

A denúncia é de que o homem as obrigou a fazer sexo oral dentro de uma sala fechada onde as vítimas estavam para prestar depoimentos, além de ter passado a mão em partes íntimas delas.

Os casos ocorreram em 2018 e em agosto deste ano. Há, ainda, outra acusação, de 2020, mas a vítima não registrou o boletim.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública informou que a corregedoria da Polícia Civil abriu um procedimento administrativo para apurar o caso e que o escrivão vai ser realocado para outra função.

“A SSP esclarece que a Polícia Civil não compactua com desvios de conduta e se mantém diligente em relação às denúncias ou indícios de transgressões ou crimes cometidos por seus agentes”, afirmou no comunicado.

O caso é investigado em sigilo e a defesa do policial não havia sido localizada até a última atualização desta matéria.

 

OS CASOS

Uma das vítimas, que não quis ser identificada, disse que em julho deste ano recebeu uma carta precatória para comparecer à delegacia em agosto porque havia perdido os documentos.

Ela relata que foi sozinha ao local e que, na sala, o escrivão pegou o celular dela e começou a olhar a galeria de fotos.

“Ele perguntou se eu era casada. Eu disse que eu namorava fazia seis, sete anos. Ele não disse mais nada. Até então eu achei que ele estava averiguando outras coisas. Ele abriu uma foto íntima minha, me mostrando ela, perguntando se eu era daquele jeito mesmo, se eu era bonita mesmo, se eu era gostosa mesmo. Eu disse para ele que ele estava me desrespeitando”.

De acordo com ela, após esse diálogo, o homem deixou o celular na mesa, trancou a porta, que já estava fechada, foi ao lado dela, pegou no braço e a levou para perto da janela atrás da mesa dele. Depois, colocou a arma na mesa e abaixou as calças.

“Ele fez com que eu fizesse oral, ele enfiou a mão dentro das minhas calças tanto na frente quanto atrás e o tempo todo com a mão na arma me ameaçando, falando que sabia onde eu trabalhava, que sabia onde eu morava e que era casado, mexendo na aliança dourada”.

Após procurar uma advogada, ela conseguiu fazer um boletim de ocorrência contra o policial.

Ao tomar conhecimento do que aconteceu com ela pela imprensa local, a tia de outra vítima procurou a mesma advogada relatando o que havia acontecido com a sobrinha em 2018.

Segundo ela, que também não quis se identificar, os pais da menina e a vítima foram à delegacia conversar com o policial sobre um crime que teria acontecido com a garota.

No local, o policial pediu para ficar a sós com a menina em uma sala, alegando que ela poderia contar a ele coisas que não tinha coragem de falar aos pais.

“Entrando, ele pegou o telefone dela, viu que não havia nudes, nem cenas picantes que interessasse a ele, deixou a arma à vista em cima da mesa e punha a mão na arma, e mandou ela levantar a blusa e abaixar as calças para ele ver o corpo dela. A gente acha que ele só não foi mais adiante porque eles [os pais] estavam ali na sala, acho que foi isso. Eles saíram de lá arrasados, pior do que o quando teve o possível crime contra ela”.

Preocupante’, diz advogada

A advogada procurada pelas vítimas é Kátia Teixeira Viegas. Ela reuniu as denúncias e procurou a corregedoria da Polícia Civil de Ribeirão Preto e foi informada que um inquérito para cada caso vai ser aberto.

Ainda de acordo com Kátia, após os casos tornarem-se público, um advogado de São Paulo fez contato com ela dizendo que tinha uma cliente que enfrentou a mesma situação com o mesmo escrivão em Franca.

“Um advogado de São Paulo entrou em contato relatando que em 2020 ele havia sido procurado por uma vítima de Franca que também tomou ciência do fato recente e que o caso que ele havia assistido era exatamente igual o que essa vítima tinha vivido e que essa vítima tornou a procurar ele informando o desejo de também representar contra o acusado”.

Para advogada, as denúncias são preocupantes, pois o suspeito ocupa um cargo em um lugar onde as pessoas buscam para se sentirem protegidas de um crime, não para serem vítimas de outro.

“É muito preocupante, porque elas estavam em um lugar que, teoricamente, teria que ter a maior segurança do mundo, que é dentro de uma delegacia de polícia. Por isso que eu acho que essas vítimas estão hoje procurando, ao invés de procurar delegado e polícia para levar o caso adiante, estão procurando advogados, porque estão com medo (…) Essas vítimas que passam por isso elas sentem que estão em ameaça constante agora com todos e infelizmente é lamentável.”

Fonte: G1