MÉDICO SUSPEITO DE ASSÉDIO SEXUAL TINHA PADRÃO CONTRA PACIENTES, DIZ DELEGADO DE IGARAPAVA, SP
A investigação da Polícia Civil contra o médico Laerte Fogaça Souza Filho, suspeito de assédio sexual contra pacientes na região de Igarapava (SP), identificou até o momento que ele tinha um padrão contra as vítimas. Nesta quinta-feira (25), oito mulheres procuraram a delegacia para denunciar o ortopedista, que também é vereador.
“Os boletins de ocorrência antigos contra ele têm uma similitude muito grande no modus operandi para praticar os abusos. Isso é um indício de que ele poderia estar praticando esse ato com frequência. É bem parecida a maneira como expõe as vítimas. Sempre tem a maca envolvida, um atrito, uma fricção de genitália que a vítima sempre acha estranho e percebe na hora”, diz o delegado Gustavo Fernando Tomaz da Silva.
Laerte é vereador pelo PDT em Ituverava (SP) e atua como ortopedista em Aramina (SP), Guará (SP) e Igarapava (SP).
O advogado de Laerte, Matheus Queiroz de Souza, nega que o médico tenha praticado os crimes.
“O acusado é inocente e desconhece totalmente as imputações que lhe são impostas pelas supostas vítimas. No decorrer da instrução processual, o Dr. Laerte terá a oportunidade de expor a verdade dos fatos e, ao mesmo tempo, comprovar a sua inocência. Cumpre ressaltar que o Dr. Laerte possui conduta irrepreensível na vida pública e privada, bem como no atendimento aos pacientes e convívio com colaboradores.”
Prisão em flagrante
Na quarta-feira (24), Laerte foi preso depois que uma paciente o denunciou por assédio sexual logo após deixar a consulta no Hospital dos Canavieiros. A mulher, de 37 anos, contou à polícia que o médico encostou o pênis ereto na perna dela por três vezes, quando ela estava deitada de bruços na maca para ser examinada.
Ao receber a denúncia, o delegado de Igarapava pesquisou o banco de dados da polícia e identificou que duas mulheres moradoras de Guará e de Aramina tinham registrado queixas contra o médico em 2020 e em 2022.
A cabeleireira Adélia Aparecida Souza da Silva, que fez boletim de ocorrência no ano passado, diz que o médico esfregou o pênis ereto na mão dela durante um atendimento em Guará.
“Deitei e ele começou a passar a mão nas minhas costas e ele colocou a mão na minha nádega. Eu nem sabia mais se eu estava ali mesmo. Foi muito constrangedor. Ele puxou meus braços pra trás, perguntando se doía, eu nem conseguia responder. Ele soltou meu braço e nisso ele ficou na beirada da maca e eu estava de olho fechado. Aí ele começou a esfregar o órgão genital dele na minha mão. Eu levantei, saí da sala e fui embora.”
Na quarta-feira, Laerte foi preso em flagrante em Igarapava, mas passou mal e precisou ser internado sob escolta da Polícia Militar na Santa Casa.
Ele passou por audiência de custódia na quinta-feira (25) e obteve na Justiça a liberdade provisória mediante pagamento de fiança no valor de R$ 40 mil. O médico deve cumprir uma série de medidas cautelares, entre elas manter distância das vítimas e de testemunhas e a proibição de atender mulheres.
Porta trancada e carícias
A dona de casa Maria Damiana Gomes de Almeida diz ter sido vítima de Laerte no início de 2023. Ela passou por uma consulta porque tinha dores no joelho e começou a ser abusada no meio do atendimento.
“Ele mandou eu levantar e depois mandou eu deitar de costas. Achei que era normal, né? Aí na hora que eu deitei, ele começou a passar a mão em mim, levantou minha blusa e começou a me acariciar, passando a mão no meu pescoço e foi descendo a mão. Mandou eu colocar a mão pra trás. A hora que eu vi que ele estava fazendo coisa errada, eu peguei o celular pra filmar, mas ele tomou o celular da minha mão”, diz.
Maria Damiana afirma que tentou sair da sala do médico, mas a porta estava trancada. Em seguida, de acordo com ela, o médico insistiu no falso exame.
“Ele deitou bem em cima e pôs o pênis dele na minha mão mesmo. Começou esfregando na minha mão e eu sentia. Eu falei para ele: ‘doutor, isso está errado, isso não é consulta’. Ele falou que era normal. Eu levantei, disse que assim não dava, e ele veio de frente, passando a mão em mim.”
Quando conseguiu sair do consultório, Maria Damiana encontrou um enfermeiro e contou o que tinha acontecido. Ela foi orientada a procurar a polícia porque se tratava de um caso de assédio.
Damiana diz que além do choque com a atitude do médico, ficou frustrada com o tratamento que recebeu da polícia por telefone.
“Eu liguei na delegacia e ele [policial] falou que eu tinha que ter prova. Aí eu perguntei: ‘mas moço, como eu vou ter prova se na hora ele tomou meu celular?’ Ele falou: ‘na próxima consulta você vai e filma’. Eu falei que não ia em consulta com ele mais. Se eu fosse, ele ia fazer a mesma coisa.”
Nesta quinta-feira, Damiana conseguiu registrar o boletim de ocorrência.
O delegado de Igarapava diz que as denúncias devem ser feitas para ajudar a polícia na investigação.
“O crime sexual é muito peculiar, justamente porque ele não ocorre com plateia, evidentemente. É um crime que ocorre em locais fechados, sem câmeras, sem testemunhas isentas. Em razão disso, a palavra da vítima ganha uma especial relevância e no caso de ontem, assim que comunicado, eu fui procurar outros elementos e encontrei várias versões harmônicas. É importante que façam denúncia sempre. As mulheres em Igarapava que se sentiram lesadas, procurem a delegacia que vocês serão amparadas.”
Fonte: G1